De 172 a 350 - MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES - Marquês de Maricá


MINISTÉRIO DA CULTURA
Fundação Biblioteca Nacional
Departamento Nacional do Livro
MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES
Marquês de Maricá

172- Há muita gente que procura apadrinhar com a opinião pública as suas opiniões e disparates
pessoais.
173- Nada se perde ou se inutiliza neste mundo, nem os excrementos dos animais, nem os erros e
disparates dos homens.
174- A experiência tem mostrado suficientemente que os maiores censores dos empregados
públicos não são os seus melhores substitutos.
175- Os povos têm, como os reis, seus parasitas e aduladores não menos abjetos, impudentes e
interesseiros.
176- Unir para desunir, fazer para desfazer, edificar para demolir, viver para morrer, eis aqui a
sorte e condição de natureza humana.
177- Na ordem moral está consignada aos maus a tarefa de se castigarem entre si e de vingarem
os bons.
178- Na subversão dos tronos não sofrem menos as cabanas que os palácios.
179- A ignorância que devera ser acanhada, conhecendo-se, é audaz e temerária por que se não
conhece.
180- Os maus não nos levam em conta a nossa bondade e indulgência, reputam-na fraqueza, e
tiram o argumento para multiplicar as suas malfeitorias.
181- A Religião é necessária ao homem feliz para não abusar, ao infeliz para não desesperar.
182- O amor-próprio do tolo, quando se exalta, é sempre o mais escandaloso.
183- A exageração é uma mentira de que não escapam ainda as pessoas mais verídicas e
honradas.
184- É fácil avaliar o juízo ou a capacidade de qualquer homem, quando se sabe o que ele mais
ambiciona.
185- A preguiça dificulta, a atividade tudo facilita.
186- O orgulho é próprio dos homens, a vaidade das mulheres.
187- Não se pode formar bom conceito de quem não tem boa opinião de pessoa alguma.
188- O orgulho pode parecer algumas vezes nobre e respeitável, a vaidade é sempre vulgar e
desprezível.
189- No orçamento do juízo humano acha-se sempre um déficit extraordinário e insanável.
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190- A imaginação é o paraíso dos afortunados, e o inferno dos desgraçados.
191- A modéstia é a moldura do merecimento que o guarnece e realça.
192- Ninguém se agasta tanto do desprezo como aqueles que mais o merecem.
193- Não é dado ao saber humano conhecer toda a extensão da sua ignorância.
194- O que se qualifica em alguns homens como firmeza de caráter não é ordinariamente senão
emperramento de opinião, incapacidade de progresso, ou imutabilidade da ignorância.
195- O espírito de intriga inculca demérito nos intrigantes.
196- Em certas circunstâncias o silêncio de poucos é culpa ou delito de muitos.
197- A vingança do sábio desatendido ou maltratado é o silêncio.
198- A crença nos médicos, que falta aos sãos, sobeja sempre nos doentes.
199- Os médicos acusam a natureza, os enfermos aos médicos.
200- É necessário que nos habilitemos, para ser felizes: a felicidade sensual exige poucas
habilitações; mas a moral, intelectual e religiosa, reclama um prolongado tirocínio de saber,
experiência e virtudes.
201- Podemos reunir todas as virtudes, mas não acumular todos os vícios.
202- É grande escândalo da natureza um velho namorado e libertino.
203- Em vão procuramos a verdadeira felicidade fora de nós, se não possuímos a sua fonte dentro
de nós mesmos.
204- Queremos tudo, porque nos cremos dignos e capazes de tudo. Tal é a filáucia do nosso
amor-próprio!
205- Muita ciência ocasiona muita incerteza.
206- A virtude é uma guerra perene conosco por amor de nós.
207- Falsas doutrinas e maus exemplos depravam os homens e as nações.
208- A riqueza dos tolos é o patrimônio dos velhacos.
209- A maior vantagem da riqueza é fornecer materiais para a beneficência.
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210- Quando a cólera ou o amor nos visita a razão se despede.
211- O louvor agrada por que distingue.
212- Os pobres se divertem com pouco dinheiro, os ricos se enojam com muita despesa.
213- É tão fácil enganar, quanto é difícil desenganar os homens.
214- O nascimento desiguala, mas a morte iguala a todos.
215- Nunca os louvores que damos são gratuitos; sempre temos em vista alguma retribuição por
este sacrifício do nosso amor-próprio.
216- A avareza ajunta quando a prodigalidade espalha.
217- São sempre suspeitos os louvores dados à pobreza pelos ricos, ou pelos pobres.
218- Ninguém nos aconselha tão mal como a nosso amor-próprio, nem tão bem como à nossa
consciência.
219- Raras vezes nos enganamos quando referimos as palavras e ações dos homens aos seus
interesses individuais.
220- A pobreza não tem bagagem, por isso marcha livre e escoteira na viagem da vida humana.
221- A credulidade e confiança de muitos tolos faz o triunfo de poucos velhacos.
222- Somos muitos francos em confessar e condenar os nossos pequenos defeitos, contanto que
possamos salvar e deixar passar sem reparo os mais graves e menos defensáveis.
223- Há enganos que nos deleitam, como desenganos que nos afligem.
224- É mais fácil maldizer dos homens do que instruí-los e melhorá-los.
225- A civilidade é uma convenção tácita entre os homens de se enganarem reciprocamente com
afetada gentileza e benevolência.
226- O invejoso é tirano e verdugo de si próprio: ele sofre porque os outros gozam.
227- A Religião é tão boa companheira na adversidade como excelente conselheira na ventura.
228- Os ingratos pensam minorar ou justificar a sua ingratidão, memorando com freqüência os
vícios e defeitos dos seus benfeitores.
229- Somos muito generosos em oferecer por civilidade o que bem sabemos que por civilidade se
não há de aceitar.
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230- Ninguém despreza tanto os homens e os povos como aqueles que mais os lisonjeiam.
231- Muitas pessoas se prezam de firmes e constantes que não são mais que teimosas e
impertinentes.
232- O poder repartido por muitos não é eficaz em nenhum.
233- As nações têm ordinariamente os governos e governantes que merecem.
234- A nossa consciência desmente muitas vezes os louvores que nos dão.
235- Nenhum governo é bom para os homens maus.
236- Há ignorantes com muito juízo, e doutores sem muito nem pouco.
237- Os achaques da velhice denunciam ordinariamente os vícios da mocidade.
238- Sabei escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário.
239- Sofrei privações na mocidade, e sereis regalados na velhice.
240- Os moços se comprazem no prospecto do futuro, os velhos no retrospecto do passado.
241- É problemático se os homens falam mais vezes para se enganarem ou para se entenderem.
242- Os velhos tornam-se nulos e inúteis à força de prudência e circunspecção.
243- O avarento é o mais leal e fiel depositário dos bens dos seus herdeiros.
244- A única vantagem da ignorância é não custar despesa nem trabalho.
245- Há benefícios conferidos com tal rudeza e grosseria que de algum modo justificam os
beneficiados da sua ingratidão.
246- Os homens geralmente preferem ser enganados com prazer a ser desenganados com dor e
desgosto.
247- As virtudes se harmonizam, os vícios discordam sempre entre si.
248- A morte anula sempre mais planos e projetos do que a vida executa.
249- Em matérias e opiniões políticas os crimes de um tempo são algumas vezes virtudes em
outro.
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250-O saber é riqueza, mas de qualidade tal que a podemos dissipar e desbaratar sem nunca
empobrecermos.
251- Os homens em geral ganham muito em não serem perfeitamente conhecidos.
252- O trabalho involuntário ou forçado é quase sempre mal concebido e pior executado.
253- Na nossa conta corrente com a natureza raras vezes lhe creditamos os muitos bens de que
gozamos, mas nunca nos esquecemos de debitar-lhe os poucos males que sofremos.
254- A sinceridade é muitas vezes louvada, mas nunca invejada.
255- Os que reclamam para si maior liberdade são os que ordinariamente menos a toleram e
permitem nos outros.
256- Um homem pode saber mais do que muitos, porém nunca tanto como todos.
257- Os maiores velhacos são os que geralmente se inculcam por melhores patriotas.
258- Sucede freqüentes vezes admirarmos de longe o que de perto desprezamos.
259- Com pouco nos divertimos, com muito menos nos afligimos.
260- Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível.
261- A mudança rápida da temperatura do ar não é mais funesta à saúde individual do que a das
opiniões políticas à tranqüilidade das nações.
262- É muito provável que a posteridade, para quem tantos apelam, tenha tão pouco juízo como
nós e os nossos antepassados.
263- O amor nos velhos é como o fogo no borralho que em cinzas se entretêm.
204- Todos querem liberdade, muitos a possuem, poucos a merecem.
265- Há muitas ocasiões em que a mesma prudência recomenda o aventurar-nos.
266- Uma grande qualidade ou talento desculpa muitos pequenos defeitos.
267- Ordem social é limitação de liberdade; desordem, liberdade ilimitada.
268- A alegria e tristeza são mais intensas e expansivas no homem que em algum outro animal: o
seu pranto e riso o manifestam.
269- Quem muito nos festeja, alguma coisa de nós deseja.
270- Um desengano oportuno corresponde a um benefício importante.
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271- Dói tanto a injúria publicada como a ferida exposta ao ar.
272- O homem de juízo aproveita, o tolo desaproveita a experiência própria.
273- Um grande mérito força o respeito, e afugenta a adulação.
274- Os velhacos têm de ordinário mais talentos, porém menos juízo do que os homens probos.
275- É triste a condição de um velho que só se faz recomendável pela sua longevidade.
276- A esperança descobre recursos, a desesperação os renuncia.
277- Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.
278- As caveiras dos mortos desencantam as cabeças dos vivos.
279- A vaidade é talvez um grande condimento da felicidade humana.
280- Queixamo-nos da fortuna para desculpar a nossa preguiça.
281- Os templos provam mais a racionalidade dos homens do que os teatros e palácios.
282- O ignorante se espanta do mesmo que o sábio mais admira.
283- Os erros de uns são lições para outros, estes acertam porque aqueles erraram.
284- Em geral o temor ou medo, e não a virtude, mantêm a ordem entre os homens.
285- Há um mundo intelectual que não ocupa lugar no espaço e compreende o infinito.
286- Se o homem não fosse passível, seria necessariamente imóvel e inativo.
287- A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o
seu elemento.
288- Achar em tudo desordem é prova de supina ignorância; descobrir ordem e sistema em tudo
é demonstração de profundo saber.
289- A paciência em muitos casos não é mais senão medo, preguiça ou impotência.
290- A preguiça enfada e quebranta mais que o trabalho regular.
291- Os que governam preferem o engano que os deleita à verdade que os incomoda.
292- O medo é a arma dos fracos, como a bravura a dos fortes.
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293- A ignorância, exagerando a nossa pouca ciência, promove a nossa grande vaidade.
294- Bem curta seria a felicidade dos homens se fosse limitada aos prazeres da razão; os da
imaginação ocupam os maiores espaços da vida humana.
295- A ignorância vencível no homem é limitada, a invencível infinita.
296- Um ente passível não pode ser independente.
297- As mulheres são mais indulgentes com os defeitos dos homens que com os das pessoas do
seu sexo: a rivalidade é quase sempre parcial nos seus juízos.
298- Os benefícios conferidos levam sempre o ônus da gratidão e reconhecimento.
299- A covardia, aviltando, preserva freqüentes vezes a vida.
300- Inveja-se a riqueza, mas não o trabalho com que ela se granjeia.
301- Há muita gente que tem por oficio arriscar a sua vida para a manter e conservar.
302- A ignorância, lidando muito, aproveita pouco: a inteligência, diminuindo o trabalho,
aumenta o produto e o proveito.
303- As virtudes são econômicas, mas os vícios dispendiosos.
304- A diferença nos sexos produz a sua união.
305- O jogo, assim como o fogo, consome em poucas horas o trabalho de muitos anos.
306- Deixamos de subir alto quando queremos subir de um salto.
307- O sábio entra em fila na procissão dos loucos e néscios, com receio de ser multado por ter
juízo.
308- O ódio e a guerra que declaramos aos outros nos gasta e consome a nós mesmos.
309- A variedade é o distintivo da sabedoria, como a uniformidade e monotonia o da ignorância.
A infinita sabedoria de Deus se revela pela infinita variedade das suas obras e maravilhas.
310- Na mocidade buscamos as companhias, na velhice as evitamos: nesta idade conhecemos melhor os homens e as
coisas.
311- Os homens são geralmente tão avaros do seu dinheiro, como pródigos dos seus conselhos.
312- Quem cultiva a sua razão aumenta os seus bens, e diminui os seus males.
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313- O juízo que falta a muitos, a ninguém sobeja.
314- É no mundo intelectual que se admiram e apreciam as maravilhas inumeráveis do mundo sensível e material.
315- A maior prova da insignificância ou santidade de um sujeito é não ter um só inimigo ou
invejoso.
316- Os maus não podem viver em solidão: têm medo e horror de si próprios.
317- A vingança comprimida aumenta em violência e intensidade.
318- Quando os homens que governam não sabem nem podem fazer-se estimar, recorrem à
tirania para se fazer temidos.
319- O medo e o entusiasmo são contagiosos.
320- Ninguém nos lisonjeia tanto como o nosso amor-próprio, nem nos argúe com mais
perseverança do que a própria consciência.
321- Quando se considera a pugnacidade com que os homens se deixam desenganar, ocorre a
suspeita de que se comprazem em ser enganados.
322- O homem é feito para dominar, e quando não pode exercer a sua soberania sobre os seus
semelhantes, tiraniza os animais para ostentar a sua superioridade.
323- De nada vale a celebridade, quando os grandes crimes também a conseguem.
324- Descontentes de tudo, só nos contentamos com o nosso próprio juízo, por mais limitado que
seja.
325- Se a ventura embota o fio aos prazeres, a desgraça não faz outro tanto às dores e aflições.
326- O homem mais sensual é necessariamente o menos livre e independente.
327- A ingratidão dos povos é mais escandalosa que a das pessoas.
328- A tirania é o talento dos homens ordinários e ignorantes, quando governam.
329- A desgraça, que humilha a uns, exalta o orgulho de outros.
330- Para bem julgar não basta sempre ver, é necessário olhar; nem basta ouvir, é conveniente
escutar.
331- Ninguém se queixa tanto dos males da vida humana como aqueles que têm menos motivos de queixar-se: a
felicidade os tornou tão suscetíveis e melindrosos, que o menor incômodo, dor ou contradição, os impele a
queixumes intermináveis.
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332- Pouco saber exalta o nosso amor-próprio, muito saber o humilha.
333- A ignorância, qual outro Faetonte, ousa muito e se precipita como ele.
334- O medo faz mais tiranos que a ambição.
335- Há muitos homens que, assim como o sol, parecem maiores no horizonte que no seu zênite
ou meridiano.
336- Não há maior nem pior tirania que a dos maus hábitos inveterados.
337- A intriga que alcança os empregos não habilita para bem servi-los.
338- Quem desconfia de si próprio, menos pode confiar nos outros.
339- A razão, sem a memória, não teria materiais com que exercer a sua atividade.
340- A dialética do interesse é quase sempre mais poderosa que a da razão e consciência.
341- Os ineptos se elevam sobre os hábeis como as substâncias leves sobre as mais graves.
342- Todas as paixões derivam, e são modificações do amor de nós mesmos, paixão essencial e
inseparável de nossa vida e existência, e necessária como guarda e sentinela da nossa
conservação.
343- Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos
velhacos, que melhor os sabem desfrutar.
344- As opiniões de um século causam riso ou lástima em outros séculos.
345- Muito se perde por falta de inteligência, porém muito mais por preguiça e aversão ao
trabalho.
346- Não se reconhece tanto a ignorância dos homens no que confessam ignorar, como no que
blasonam de saber melhor.
347- O trabalho é amargo, mas os seus frutos são doces e aprazíveis.
348- O moço, na primavera da vida, preza sobretudo as flores; o velho, no seu outono, aprecia
somente os frutos.
349- O valor mais resoluto é o que procede da desesperação.
350- Não admira que não compreendamos a Deus, quando somos incompreensíveis a nós
mesmos.