de 75 a 171 - MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES - Marquês de Maricá


MINISTÉRIO DA CULTURA
Fundação Biblioteca Nacional
Departamento Nacional do Livro
MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES
Marquês de Maricá

75- O órgão de que mais abusamos na mocidade é ordinariamente a sede dos nossos males na
velhice.
76- A virtude é comunicável, mas o vício contagioso.
77- O mundo é um mago que nos traz encantados: o desencanto nos fizera talvez menos felizes
ou mais desgraçados.
78- Não podemos fitar os olhos no sol, nem o pensamento em Deus, sem que fiquem
deslumbrados.
79- Para bem falar, não é o saber que falta a muitas pessoas, mas a proterva e a filáucia da
ignorância.
80- Devemos tratar os homens com a mesma cautela, resguardo e desconfiança, de que usamos
em colher as rosas.
81- A nossa vida é quase toda um sonho, e sonhamos acordados mais vezes do que dormindo.
82- É mais útil algumas vezes a extirpação de um erro, que a descoberta de muitas verdades.
83- Dão-se os conselhos com melhor vontade do que geralmente se aceitam.
84- Ter privança com os que governam é contrair responsabilidade no mal que fazem, sem
partilhar o louvor do bem que operam.
85- É necessário subir muito alto para bem descortinar as ilusões e angústias da ambição, poder e
soberania.
86- A lisonja é o mel que adoça todos os incômodos, azedumes e importunidades dos empregos
eminentes.
87- Muito lucram as nações em que os homens se esqueçam de que são mortais, e que a vida é
breve.
88- Os anarquistas são como os jogadores infelizes ou inábeis, que, baralhando muito as cartas,
ou mudando de baralhos, esperam melhorar de fortuna e condição.
89- Confiar desconfiando é uma regra muito salutar da prudência humana.
90-O homem mais sábio é necessariamente o mais religioso.
91- A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza.
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92- Não haveria História mais insípida e insignificante que a dos homens, se todos tivessem
juízo.
93- Quem não pode ou não sabe acumular, nunca chega a ser sábio nem rico.
94- O estudo confere ciência, mas a meditação, originalidade.
95- Os tiranos são criaturas dos mesmos povos, quando estes os merecem.
96- Há pessoas que não podem elevar-se a lugares eminentes sem entontecer ou desatinar.
97- A moderação em muitos homens é o reconhecimento da própria fraqueza ou mediocridade.
98- Há muitos homens que para escaparem de si mesmos, importunam os outros com visitas.
99- As revoluções políticas são ordinariamente como os terremotos, destroem mas não edificam.
100- A civilização moderna é devida mais à derrubada de erros antigos acumulados, que à
descoberta de verdades novas.
101- Os arrufos entre amantes podem ser renovações de amor, mas entre os amigos são
deteriorações da amizade.
102- Não prezaríamos tanto o crédito moral, se não soubéssemos que facilita muito a aquisição
dos bens materiais.
103- Os governos fracos fazem fortes os ambiciosos e insurgentes.
104- Ninguém é mais adulado que os tiranos: o medo faz mais lisonjeiros que o amor.
105- Amamo-nos sempre em tudo o que mais amamos fora de nós.
106- A inveja defende e promove a doutrina dos niveladores.
107- Fingimo-nos esquecidos quando nos não convém parecer lembrados.
108- As idéias novas são para muita gente como as frutas verdes que travam na boca.
109- Há opiniões perseguidas que se podem comparar com as árvores decotadas que vegetam
depois com mais vigor e profusão.
110- A atividade sem juízo é mais ruinosa que a preguiça.
111- A vaidade de muita ciência é prova de pouco saber.
112- A Religião supre o juízo e a razão que falta em muita gente.
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113- Os espíritos metódicos são ordinariamente os menos sublimes e transcendentes.
114- A aura popular é como a fumaça, que desaparece em poucos instantes.
115- O maior benefício ocasiona de ordinário a maior ingratidão.
116- Os bons folgam quando os maus pelejam.
117- O interesse forma as amizades, o interesse as dissolve.
118- A ambição é um enredo que nos enreda por toda a vida.
119- Ninguém duvida tanto como aquele que mais sabe.
120- O desejo da glória literária é de todas as ambições a mais inocente, sem ser todavia a menos
laboriosa.
121- Os eventos extraordinários não deixam de ser naturais, assim como um feto monstruoso não
deixa de ser produto da natureza.
122- A bravura é taciturna, mas a covardia garrulenta.
123- Quando os moços se consideram com mais juízo e de melhor conselho que os velhos, tudo
vai perdido, os males não têm remédio.
124- A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens.
125- Renhimos quase sempre porque não definimos.
126- São infinitos os erros que têm resultado aos homens de haverem personalizado as suas
próprias abstrações.
127- O que mais sabe, menos sofre: a Sabedoria Infinita é impassível.
128- A falsa ciência não aumenta o nosso saber, agrava a nossa ignorância.
129- Há tolos velhacos assim como há doidos sagazes.
130- O erro máximo dos filósofos foi pretender sempre que os povos filosofassem.
131- A fraqueza é menos indulgente que a força: as mulheres são mais vingativas que os homens.
132- Os tolos passam muitas vezes por acesso a velhacos, e procuram neste predicamento
indenizar-se com usura das perdas que sofreram no primeiro estado.
133- O homem que despreza a opinião pública é muito tolo ou muito sábio.
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134- Os erros circulam entre os homens como as moedas de cobre, as verdades como os dobrões
de ouro.
135- É bem singular o império que têm os velhacos sobre os tolos; o seu ascendente irresistível é
comparável à fascinação das serpentes para com os animais que lhes servem de alimento.
136- Prezamos e avaliamos a vida muito mais no seu extremo que no seu começo.
137- Ninguém mente tanto nem mais do que a História.
138- O velho calcula muito, executa pouco: a mocidade é mais executiva que deliberativa.
139- A liberdade que nunca é suficiente para os maus é sempre sobeja para os bons.
140- A liberdade embriaga como o vinho, e nos impele a iguais desatinos.
141- Os grandes homens em certas relações são pequenos homens em outras.
142- Os pequenos inimigos, ainda que menos danosos, são sempre mais incômodos que os
grandes.
143- Ninguém é grande homem em tudo e em todo o tempo.
144- Há muitos homens que se aborrecem, porque se não conhecem imediatamente.
145- A prudência é uma arma defensiva que supre ou desarma todas as outras.
146- As revoluções no físico, moral e político não são mais que tendências, movimentos ou
esforços naturais, para o estabelecimento de um certo equilíbrio indispensável.
147- Há muita gente que, assim como o eco, repete as palavras sem lhes compreender o sentido.
148- Dos especuladores em revoluções muitos se perdem e poucos prosperam por algum tempo.
149- É uma grande verdade de difícil compreensão, que as discórdias parciais constituem a ordem
e harmonia geral no Mundo Físico e Moral.
150- Não desespereis na desgraça, ela é freqüentes vezes uma transição necessária para a boa
fortuna.
151- Ignorância e pobreza vêm de graça, não custam trabalho nem despesa.
152- Todos reclamam reformas, mas ninguém se quer reformar.
153- A impunidade é segura, quando a cumplicidade é geral.
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154- A novidade incomoda os velhos, a uniformidade os moços.
155- Os homens em sociedade são como as pedras em uma abóbada, resistem e se ajudam
simultaneamente.
156- Ignorância e preguiça a ninguém enriquecem.
157-A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.
158- O soberbo é um tolo: perde sempre sem ganhar, malquistando-se com todos.
159- Os vícios, como os cancros, têm a qualidade de corrosivos.
160- A liberdade de mal fazer, a ninguém se deve permitir, a de fazer bem sobeja a todos.
161- A misantropia é a sátira da espécie humana.
162- Os moços, por falta de experiência, de nada suspeitam, os velhos, por muito
experimentados, de tudo desconfiam.
163- O mais poderoso corretivo da nímia liberdade é a Religião profundamente sentida e
observada.
164- A opinião pública é sujeita à moda, e tem ordinariamente a mesma consistência e duração
que as modas.
165- Um filósofo eminente é na ordem social o mesmo que um cometa no sistema sidéreo ou
planetário, um astro excêntrico, de uma órbita incalculável, que assusta a muitos ou a todos por
não ser ainda compreendido.
166- Para quem não tem juízo os maiores bens da vida se convertem em gravíssimos males.
167- A constância nas nossas opiniões seria geralmente embaraço e oposição ao progresso e
melhoramento da nossa inteligência.
168- O entusiasmo é um gênero de loucura que conduz algumas vezes ao heroísmo, e muitas
outras a grandes crimes e malfeitorias.
169- Os homens, por não desagradar aos maus de quem se temem, abandonam muitas vezes os
bons, a quem respeitam.
170- Os governos perecem quando não sabem ou não podem desagravar-se das injúrias irrogadas.
171- É suspeito de ilegítimo o interesse quando a consciência o reprova.