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COLECÇÃO REVIVENDO N.° 4 COELHO NETTO A BICO DE PENA LELLO & IRMÃO


COLECÇÃO REVIVENDO
N.° 4
COELHO NETTO
A BICO DE PENA
LELLO & IRMÃO
E D I T ORE S
«REVIVENDO»
É o título de uma encantadora colecção que os
editores LELLO & IRMÃO lançam no mercado,
no intuito de reviverem livros que o público
consagrou.
N.o 1 - COELHO NETTO, miragem, 4. a edição. »
2 —JOÃO GRAVE, o PASSAÈo, 2 a. edição. »
3 —ANATOLE FRANCE, JOCASTA, l.a edição. .»
4 —COELHO NETTO, a bico de pena, 3 a. edição. »
5 — JOÃO GRAVE, JORNADA ROMÂNTICA, 2.a edição. »
6 — PINTO DA ROCHA, TALITA, 3. a edição. »
7 - COELHO NETTO, ÁGUA DE JUVENTA. 3.a edição. »
8 - JOÃO GRAVE, REFLORIR, 3.a edição. »
9 — COELHO NETTO, ESFINGE, 3. a edição. »
10 —MÁRIO SETTE, VIGIA DA CASA GRANDE, l.a edição.
NOVOS VOLUMES SE SEGUIRÃO
A Bico de Penna
COELHO NETTO
Coelho Netto
A Bico de Penna
FANTASIAS, CONTOS E PERFIS
1902-1903
TERCEIRA EDIÇÃO
PORTO
Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, L.ãa
editores —Rua das Carmelitas, 144
Millcmd e Bertrand —Lisboa-Paris
1925
Obras de COELHO NETTO
Sertão.
A Bico de Penna.
Água de Juventa.
Romanceiro.
Theatro, vol. I (O Relicário, Os Raios X,
O Diabo no corpo).
Theatro, vol. II (As Estações, Ao Luar,
Ironia, A Mulher, Fim de Raça).
Theatro, vol. IV (Quebranta, comédia
em 3 actos, e o sainete Nuvem).
Theatro, vol. V (O dinheiro, Bonança, e
o Intruso).
Fabulario.
Jardim das Oliveiras.
Esfinge
Inverno em Flor.
Apólogos, contos para crianças.
Miragem.
Mvsterios do Natal, contos para crianças.
O Morto.
Rei Negro.
Capital Federal.
A Conquista. Tormenta.
Tréva. Banzo.
Turbilhão.
O meu dia.
As Sete Dores de Nossa Senhora.
Balladilhas.
Pastoral
Vida Mundana.
Patinho torto.
Ás quintas.
Scenas e perfis.
NO PBÉLO; Feira livre.
Immortalidade. O Paraíso.
Bazar. Theatro lyrico.
A propriedade alteraria e artística está garantida em todos
os países que aàheriram á convenção de Berne — (Em
Portugal pela lei de 13 de março de 1911 — No Brasil
pela lei n.° 2577 de 17 de janeiro de 1912).
LAVRADORES
Entre as sabias máximas dos etruscos, esses criadores
da riqueza do campo latino, maximas que
Plinio, mui judiciosamente, appellidou «oracula»,
uma das mais concisas devia ser escripta em taboas
que fossem levantadas em altos postes, fincados nas
encruzilhadas, nos ferteis outeiros, entre as
plantações, impondo-se como preceito a todos os
agricultores que, de passagem, de manhan, em rumo
aos talhões e, á tarde, recolhendo á casa, vissem e
meditassem as suas singelas palavras : «Máu é o
lavrador que compra aquillo que a terra lhe pode
dar».
Esses povos de tanta rusticidade, quasi barbaros,
dedicando-se exclusivamente á terra com um amor
avárc, vendo num torrão uma riqueza, numa
semente de trigo ou de linho õ pão ou o fio,
considerando o alqueive como a melhor fortuna,
esposando a leira pela qual viviam sacrificando aos
deuses para que lhes não faltassem com a. rega
fecunda nem lhes demorassem nos canteiros as
geadas esterilisadoras.
6 A BICO DE PENNA
gozando deliciosamente o suave aroma dos fenos
cortados, alegrando-se com o lourejar da seara,
ondulante, extasiando-se com o fresco cantar das regas,
ao mugir melancolico dos gados, ao zumbir dos enxames,
tinham noções exactas da verdadeira economia e da
sciencia facil e tão pouco praticada do bem viver. «Máu é
o lavrador que compra aquillo que a terra lhe póde dar».
Assim tiravam elles da terra o barro e as ripas com
que edificavam a casa e modelavam o forno, a lenha que
queimavam, o trigo que amassavam e coziam, o linho
que as mulheres fiavam e com que teciam os vestidos e a
lençaria domestica, a fruta, o azeite e o vinho.
Nos pastos engordavam o armentio que lhes fornecia
os bois robustos que, ao doce cerrar da tarde, lentamente,
pelos caminhos cheirosos, levavam o pesado carro das
colheitas, a vacca de ubres pejados, a rez para o corte e a
ovelha que se despia da lan para vesti-los.
A agua era bebedouro no remanso e, correndo,
escachoava na azenha d'onde sahia repartindo-se em
azequias que iam abeberar as raizes; e, isolados nos seus
casaes, tinham os lavradores todo o necessario para a
vida e das sobras abundantes faziam commercio levandoas
ás feiras periodicas.
A terra não se recusa a criar a semente qualquer que
ella seja : prometta arvore frondosa ou seja o simples
germen de um arbusto; o seu seio acolhedor é uma
grande maternidade — ali acham abrigo favoravel todas
as plantas : a seiva que alimenta o jequitibá não deixa
inanida a relva, circula de uma a outra distribuindo-se
equitativarnente.
BICO DE PENNA 7
Uma das causas da decadência do nosso lavrador é a
mania rotineira da monocultura. A propósito d'essa
contumacia intransigente já houve quem declarasse que a
nossa desgraça era o café. Toda a confiança do lavrador
funda-se nessa cultura : o café é o senhor absoluto da
terra, só elle tem o direito de vida, só as suas flores
trescalam, só a sua folhagem, que já cingiu a coroa, é
bella — por elle veiu o negro da Africa, por elle veiu o
colono da Europa.
As machinas, que se installam nas fazendas, são para
beneficiar o café ; os ladrilhos que entram vão dilatar os
terreiros ; o adubo que se caldeia vai para o cafesal; o
melhor gado trabalha nos eitos ; a gente mais robusta é
para lá destacada. Ali fuzilam as melhores enxadas, a
melhor agua corre para os tanques de lavagem e, como
para que lhe não saia das vistas o precioso grão, o
fazendeiro aconchega ao domicilio a casa das machinas e
as tulhas, para que sempre ouça o frêmito das
Lidgerwood, para que sempre veja o enxame de cascas
voando dos ventiladores, para que sempre tenha, a
acariciar-lhe o olfacto, o cheiro acro das sementes novas.
Se ha moinho para triturar o milho é um pobre
casebre esquecido num fundo de grota ; se ha paiol é uma
minaria — só o café tem agasalho digno em taboas lisas,
sob telhados, entre muros fortes. Se alguém, mostrando
uma faixa de terra, lembra ao lavrador a vantagem de
uma plantação de cereaes ou de canna ou indica uma
baixada humida como excellente vargedo para um
arrozal, elle sorri superiormente declarando : « Não vale a
pena, isso é quitanda. O café dá para tudo». O resultado é
que não ha residencia mais desprovida que a do fazen8
A BICO DE PENNA
deiro — elle compra os cereaes para a despensa, a
carne, o toucinho, o fubá, o milho e a forragem para
os animaes.
Entretanto no quintalejo do colono europeu
viceja a horta sempre fresca de rega, o milho
apendôa-se, enfeixam-se touceiras de canna, sobem
verdes latadas de vinha e de gordas aboboras,
verdeja em estendal a rama da batata, o feijoal
enfestôa espiraladamente as hastes dos milhos e
ainda no chiqueiro grunhe o cevado, coincham os
bacorinhos, a cabra lá está de peitos rijos,
ruminando ; na casa, pendente das cordas,
defumando-se, os salpicões, o chouriço, o lardo e a
um canto, em largas vasilhas, a carne em salga.
A. previdência do camponio europeu, que vem
da miséria, tão bem descripta por Michelet, tendo de
realisar prodigios de trabalho para fecundar vageiros
e safaros terrenos eriçados de pedregulho, colhendo
uns galões de vinho, que não bebe, umas medidas
de trigo, que não come, umas estrigas de Unho,
que não veste, porque tudo é para o mercado
ficando-lhe apenas a brôa e o canhamo de que se
nutre e com que se cobre, sempre a pensar nos
invernos, guardando avaramente todo o ramalho que
encontra, aproveitando todas as migalhas, deve ser
um exemplo para o lavrador brasileiro.
Posto que, com a fertilidade da terra e a
amenidade do clima, o colono vá, aos poucos,
relaxando ainda assim com a idéa fixa de tornar á
pátria levando o necessário para viver regaladamente
no seu campo natal, trabalha e accumula, passando
sobria-mente porque, pelo habito e ainda pela
ambição, o melhor da colheita e da criação desce ao
mercado
Para continuar lendo pedir p/ leilaoliterario@gmail.com enviaremos o mais rápido possível

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